Para quem gosta de poesia, eis mais um belo soneto de nosso poeta barroco Gregório de Matos. Trata-se pois de um poema sacro, onde Gregório demonstra toda sua angústia, estando ele entre o pecado e a esperança de salvação divina.
Essa ideia de pecado e salvação divina é muito expressiva em seus poemas. Mas nesse soneto, em particular, vê-se um Gregório perante Deus de modo não submisso, como se espera. Ao contrário, muito esperto e persuasivo nas palavras, ele está mais para defensor de seu próprio direito de salvação, pretensiosamente talvez, mesmo sabendo ser um pecador. E é por esse motivo que, evocando Deus, busca seu perdão.
A impressão que se tem é de um homem que prevê o seu juízo final; um homem pecador que sofre com sua dolorosa consciência que muito lhe atormenta, com grande medo do inferno e que espera receber a fé divina. Aí ele faz seu jogo.
É um poema altamente pretencioso, em que o poeta coloca, de certa forma, Deus contra a parede, com o intuito de receber sua benção e perdão.
Boa leitura.
Ao Mesmo Assumpto e na Mesma Occasião
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado.
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Gregório de Mattos
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