domingo, 3 de julho de 2011

MEU QUERIDO PAI JÁ DIZIA: “VOCÊ PRECISA FAZER POR MERECER"


TÍTULO DA ABL A RONALDINHO GAUCHO








Confesso que me custou muito entender o que o meu pai queria me dizer com a frase "VOCÊ PRECISA FAZER POR MERECER". Passado um tempo, eu a compreendi e passei a dar muito valor a ela, e sei o quão é difícil na vida de um cidadão do bem conseguir o reconhecimento, o devido mérito nas coisas que ele fez e faz para si mesmo, para sua família e até mesmo para a sociedade. Sabe por quê? Porque estamos vivendo em uma sociedade futilizada, onde o que prevalece é o todo, não a parte. Onde o que importa mesmo é o TER, de forma mais fácil possível, sem esforço, sem desgaste físico e, principalmente, mental, em detrimento do SER.

O que esse jornalista está falando no vídeo acima, para mim não se trata de um sensacionalismo ou uma “dor de cotovelo”, como alguns fúteis cidadãos que prestigiam a leviandade das coisas irão dizer – se já não disseram. Nada disso. O que ele está fazendo é manifestando seu repúdio ao ato cometido por uma instituição que, em tese, não deveria e nem compete julgar, critica, muito menos dedicar títulos a jogadores de futebol – ou qualquer que seja o esporte –, a não ser que o jogador, paralelamente à sua competente capacidade de encantar seus fãs com a bola, também a tenha para escrever uma obra literária ou coisa assim. Caso contrário é patético e sem sentido. É, sem dúvida, distorcer o porquê da existência da imortal instituição.

Antes de mais nada, pergunto: qual a competência da Academia Brasileira de Letras? Por quê ela existe? Você sabe? Então vejamos. Para não ficar a impressão de que “quem é esse cara para dizer?”, consultemos o nosso assessor de assuntos aleatórios (o Wikipédia). A Academia Brasileira de Letras – ABL “é uma instituição fundada no Rio de Janeiro em 20 de julho de 1897 por escritores como Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Inglês de Souza, Olavo Bilac, Graça Aranha, Medeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Rui Barbosa. Composta por quarenta membros efetivos e perpétuos e por vinte sócios estrangeiros, tem, por fim, o cultivo da língua e da literatura brasileiras” (grifos nossos).


O que o jornalista está dizendo, e eu concordo perfeitamente, é que, muitas vezes, não se faz as coisas por direito e, por conseguinte, o mérito não é por direito. Como ele mesmo falou, pegando como exemplo o que o cantor Lobão já dissera: “trabalhou bem feito, reconhecimento de todos; não trabalhou bem feito, admoestação (repreensão, mesmo que branda e benevolamente). Aí vai a deixa para minha tão irrequieta pergunta: como excelente jogador de futebol, que obra mesmo que ele escreveu e que justifica o referido título? Pois sei que tem muita gente em nosso imenso Brasil que escreveu belas obras e nem se quer é conhecida. Mas o buraco é mais embaixo, como se diria por ai.

Então eu volto a questionar o que leva a ABL tomar uma decisão dessas? Não consigo enxergar nenhum fundamento que justifique o porquê dessa decisão. Prezados nobres e imortais literatos (ou não), membros da altiva, ilustre, sublime, digna, briosa (é tudo a mesma coisa) ABL, perdoem esse mortal e singelo crítico que aqui se manifesta, mas, aplicarei, por analogia, a teoria da meritocracia ao jogador Ronaldinho: admoesto-lhe imperativamente (e não preciso pertencer à ABL para saber que estou sendo redundante com o uso do vocábulo).


Mas faço isso na melhor das intenções, como o próprio termo assim me permite. Motivo pelo qual justifico, pois se trata de uma instituição honrada e séria (acredito e quero continuar a acreditar que sim), que muito respeito, que acolheu pessoas de máxima honra e competência, defensoras de nossa tradição que, de uma forma ou outra, contribuíram imensamente para perpetuar a Cultura Brasileira, que anda cada vez mais desgastada e sofrida em detrimento de uma efemeridade massiva, leviana e fútil que hoje se manifesta muito fortemente em nossa sociedade e que os meios de comunicação apregoam como cultura, mas que, na verdade, não passa de atos módicos, de relâmpago, onde a nossa sociedade caminha como a brisa do mar: de lá prá cá, daqui prá lá...

Como tal, a ABL não deveria e não deve destinar seus propósitos em homenagear pessoas empanas, sendo que sua competência é muito objetiva: cultuar a nossa querida Língua Portuguesa e, digo ainda, defender com unhas e dentes nossos poetas, escritores, as pessoas que se dedicam a manter nossa genuína cultura na ponta de seus lápis. Acredito que Rui Barbosa está a lamentar muito pelo efêmero e lapso ato cometido pelos integrantes da Academia Brasileira de Letras nesse dia 11 de abril de 2011, com o título Machado de Assis, que deve este esconjurar os infelizes responsáveis por esse ato. Tanta gente que realmente mereceria esse título. Valha-me, Deus.

Espera aí. A não ser que ABL não seria a imortal instituição defensora da Cultura Brasileira, mas sim a Associação das Baladas Locais. Aí queiram me perdoar o meu equivoco. O título é merecido.

É lógico que tudo isso não muda nada em minha vida. Mas, como cidadão brasileiro e cultivador de nosso maravilhosa literatura, faço questão de me manifestar e me indignar por esse gesto impensado e sem fundamento. É isso. Mas quero dizer ainda...

Quem é esse tal Ronaldinho, “perna de pau” de nossa língua Portuguesa? Minha crítica não é contra o Ronaldinho, não tenho nada contra sua pessoa e sei o quanto é bom de bola – de bola. Também não é contra o esporte em si. Mas minha crítica é contra os “ronaldinhos” que estão destruindo nossa cultura. Acabando com nossa história e que não percebe o quanto isso é ruim para uma nação, que acaba ficando sem uma identidade e rotulada como a terra da bola, da bunda e da malandragem. Pior: da bola não sei não se ainda pode carregar esse título.

E a nossa Pátria – querida, mas não tão idolatrada Pátria – que deveria ser, no mínimo respeitada, é ignorada e substituída por uma bola, onde milhões de pessoas param para observá-la, defendê-la, chorar por ela. A troco do quê? De uma ilusão, nada mais. E enquanto haverá bobos, ingênuos torcedores, meia dúzia está rindo de todos nós. Por quê? Oras, você, torcedor brasileiro, acha que um “Ronaldinho” joga por amor à Pátria. Só ingênuo para pensar que sim.


Confesso que detesto futebol. E isso já fiz o meu leitor perceber. Reconheço que ando na contra-mão da cultura futebolística brasileira. Mas quero desde já me defender. Já me emocionei muito, chorei, torci, vibrei o bastante. Bastante até demais. Como vibrei com a nossa seleção brasileira! Eu sei muito bem.

Mas espera aí. A troco de quê? Notei que meus atos, meu trabalho, meus gestos suados e sofridos estavam sendo massacrados por uma cultura maciça e grotescamente hipnótica, que o que importa era não mais as minhas necessidades fisiológicas, sociais, de amor, de auto-realização, financeira até, mas a necessidade de espelhar-me em uma sensação de vitória, que não era e nunca será minha. Nunca mesmo. A não ser que eu esteja lá, com um propósito, atrás daquela bola, fazendo o meu gol. Aí sim seria a minha vitória. Então notei que eu estava me enganando com tudo aquilo e, sem perceber, deixando de lado muitas outras coisas que verdadeiramente seriam boas para minha vida.


Parei tudo. Da mesma forma que me manifesto ideologicamente ao não beber a marca consagrada da bebida norte-americana ou de entrar em um desses locais vermelho e amarelo que servem lanche, que mais parece algo produzido do que feito (se é que me entendem), manifesto-me também em não torcer mais futebol* algum. E olha que não quero entrar no mérito de Copa do mundo. Aí me chamarão de traidor, por não me entenderem mesmo o meu ideário esportivo. Mas isso é assunto para uma outra oportunidade.


Eis os termos
* O futebol, (do inglês association football ou simplesmente football) é um desporto de equipe jogado entre dois times de 11 jogadores cada um e um árbitro que se ocupa da correta aplicação das normas. É considerado o desporto mais popular do mundo, pois cerca de 270 milhões de pessoas participam das suas várias competições.[2] É jogado num campo retangular gramado, com uma baliza em cada lado do campo. O objetivo do jogo é deslocar uma bola através do campo para colocá-la dentro da baliza adversária, ação que se denomina golo (português europeu) ou gol (português brasileiro). A equipe que marca mais gols ao término da partida é a vencedora.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Futebol

Meritocracia (do latim mereo, merecer, obter) é um sistema de governo ou outra organização que considera o mérito (aptidão) a razão para se atingir determinada posição. Em sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia. As posições hierárquicas são conquistadas, em tese, com base no merecimento e entre os valores associados estão educação, moral, aptidão específica para determinada atividade. Em alguns casos, constitui-se em uma forma ou método de seleção.

A meritocracia está associada, por exemplo, ao estado burocrático, sendo a forma pela qual os funcionários estatais são selecionados para seus postos de acordo com sua capacidade (através de concursos, por exemplo). Ou ainda – associação mais comum – aos exames de ingresso ou avaliação nas escolas, nos quais não há discriminação entre os alunos quanto ao conteúdo das perguntas ou temas propostos. Assim, meritocracia também indica posições ou colocações conseguidas por mérito pessoal.

Embora a maioria dos governos seja em parte baseada na meritocracia, ela não se expressa de forma pura em nenhum lugar. Governos como de Singapura e da Finlândia utilizam padrões meritocráticos para a escolha de autoridades, mas misturados a outros. Um modelo de uma meritocracia é o método científico, no qual o que considerado como sendo verdade é justamente definido pelo mérito, ou seja, a consistência do conteúdo em relação às observações ou a outras teorias.

O principal argumento em favor da meritocracia é que ela proporciona maior justiça do que outros sistemas hierárquicos, uma vez que as distinções não se dão por sexo ou raça, nem por riqueza ou posição social, entre outros fatores biológicos ou culturais, nem mesmo em termos de discriminação positiva. Além disso, em teoria, a meritocracia, através da competição entre os indivíduos, estimula o aumento da produtividade e eficiência.

Embora o sufixo "cracia" sugira um sistema de governo, há um sentido mais amplo. Em organizações, pode ser uma forma de recompensa por esforços e reconhecimento, geralmente associado a escolha de posições ou atribuição de funções. Entretanto a palavra "meritocracia" é agora freqüentemente usada para descrever um tipo de sociedade onde riqueza, renda, e classe social são designados por competição, assumindo-se que os vencedores, de fato, merecem tais vantagens. Conseqüentemente, a palavra adquiriu uma conotação de "Darwinismo Social", e é usada para descrever sociedades agressivamente competitivas, com grandes diferenças de renda e riqueza, contrastadas com sociedades igualitárias.

Governos e organismos meritocráticos enfatizam talento, educação formal e competência, em lugar de diferenças existentes, tais como classe social, etnia, ou sexo.

Em uma democracia representativa, onde o poder está, teoricamente, nas mãos dos representantes eleitos, elementos meritocráticos incluem o uso de consultorias especializadas para ajudar na formulação de políticas, e um serviço civil, meritocrático, para implementá-los. O problema perene na defesa da meritocracia é definir, exatamente, o que cada um entende por "mérito". Além disso, um sistema que se diga meritocrático e não o seja na prática será um mero discurso para mascarar privilégios e justificar indicações a cargos públicos.



sábado, 2 de julho de 2011

PELOS DEUSES, O QUE ESTÃO FAZENDO COM A GRÉCIA


Por Mino Carta

Vende-se o Partenon
Mino Carta 2 de julho de 2011 às 10:39h



Uma foto de Billy the Kid, tirada nos anos 80 do século XIX, a única existente do bandido cinematográfico, foi leiloada dias atrás nos Estados Unidos e arrematada por mais de 1 milhão de dólares. Pergunto aos meus botões quanto valeria o Partenon, ou um arquipélago do Mar Egeu. Inimaginável, respondem. Até um certo ponto, digo eu.

À deriva de uma Europa assolada pela crise econômica e financeira, à custa de um buraco negro, abismo vertiginoso de mais de 600 bilhões de euros, para cobri-lo a Grécia anuncia o propósito de pôr em leilão o seu inestimável patrimônio artístico e natural. Daí a lógica da pergunta acima. Poderia, porém, dirigir muitas outras ao Oráculo de Delfos. Que diria Homero? Ou, ao se falar no Egeu, o seu herói mais humano, o Odisseu? Ou a poetisa Safo, ou outro que versejava, Teócrito, a pressagiar Caymmi, escrevia “deixa que o mar azul quebre sobre a praia, mais doce a seu lado transcorrerei a noite”?

Penso na Itália, que, igual a outros países europeus, vive no fio da navalha. Quanto valem a catedral de Orvieto, o Vesúvio, o museu Degli Uffizi? E me vêm à memória filmes da minha mocidade, comédias à italiana, em que um Sordi ou um Totó conseguiam vender o Coliseu ao parvo turista americano de sandálias e bermudas. Digo, o precursor de um transeunte hodierno e comum da Avenida Paulista, ou da Rua Oscar Freire, a mais elegante do mundo, como todos sabem.

À espera de leilões inéditos, de certa forma aberrantes, meus severos botões se apressam a uma afirmação categórica: não é para rir, não. Assistimos a mais um quadro do segundo ato da tragédia, a da tentativa, por ora em andamento, do suicídio do globo terráqueo. O homem criou a situação terrificante, ou melhor, um grupo de homens dispostos a crer, a provar, a impingir que o ideal é produzir dinheiro, grana em atuação-solo, em lugar de bens, indispensáveis e nem tanto. Outros homens, em quantidade infinitamente maior, deixaram-se engodar. Outros ainda, muitos mais ainda, estão mergulhados no oblívio de quem nada sabe e nada percebe.

Este o enredo do primeiro ato, mas não levou ao repúdio do engano urdido por estranha competência na tessitura da desgraça, não alterou um milímetro, ou um suspiro sequer, os papéis dos protagonistas, banqueiros e especuladores financeiros. Todos a postos no alvorecer do segundo ato, a professarem o mesmo credo, nos Estados Unidos e na Europa. Alguns meses depois, volto a citar um documentário magistral, ganhador do Oscar deste ano, Inside Job. Mostrou a cara impávida de quem semeou a tempestade e impavidamente continua a alimentá-la, certo da impunidade. E a humanidade que se moa.

O segundo ato envereda pelo suicídio de um certo número de cidadãos gregos, que não acham saída para a tragédia, coletiva e também individual. O cenário, em todo caso, vai além desta específica crise, exibe sem disfarces outras faces, política, intelectual, moral. Leiam, se quiserem, em ordem inversa, moral em primeiro lugar, a abarcar em larga parte a política. Nunca a corrupção e a hipocrisia dos poderosos, a desfaçatez e a prepotência, ficaram tão impunemente expostas aos olhos do mundo, e este gênero de violência é tanto mais grave em uma quadra da história humana que se pretende de progresso nunca dantes alcançado.

Sim, assistimos a avanços científicos e tecnológicos notáveis e inegáveis, e nem por isso atravessamos de fato dias melhores. Somos, em tudo e por tudo, súditos do império do dinheiro, que alonga suas fronteiras por cima das nacionais, transcende-as como se fossem inexistentes ou inúteis. Com valia em todos os campos, na arte e no esporte, na educação e na saúde. É da percepção até do mundo mineral o quanto a humanidade, ao se multiplicar, emburrece, assim como cresce a implacável separação entre ricos e pobres.

Neste segundo ato, padecemos a globalização da ferocidade de poucos oposta à debilidade de muitos, a riqueza e o poder à miséria e à indigência, a irresponsabilidade à resignação e à apatia. Em um único ponto talvez se verifique alguma igualdade: na ignorância, doença terrível, epidêmica. A prosseguir neste rumo, o terceiro ato não promete nada de bom.


Mino Carta
Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde.
redacao@cartacapital.com.br.




Com o forte e negativo impacto financeiro que a Grécia, infelizmente, vem sofrendo, ela encontra-se à porta de uma moratória, e não se pode descartar uma crise mundial em virtude do que está acontecendo por lá. Ou alguém duvida disso? Eis a globalização.


Que sejam invocados Zeus, Apólo, Hera, Afrodite, Ártemis, Hermes, Deméter, Dionísio, Possêidon e Hades, deus do inferno. E eles poderão integrar o 3º ato desse cenário triste que hoje assola a Grécia (só a Grécia mesmo? Não sei não!). Só não se sabe se esses deuses farão o papel dos "mocinhos" ou dos "vilões". A plateia aguarda atemorizada o próximo ato.