Qual
o conceito que temos de apreciação?
Quando falamos em apreciar, remetemo-nos tão logo a um bom vinho, um suculento
prato típico, um filme que ouvimos falar e desejamos muito assisti-lo, ou coisa
assim. Dificilmente paramos para refletir sobre outras possibilidades de
aplicarmos tão bem quanto o verbo apreciar.
Nessas
minhas abstrações – e essa é mais uma delas – quero iniciar o assunto trazendo
um exemplo resgatado do livro Como fazer
amigos e influenciar pessoas. Nessa literatura, tem uma passagem no mínimo
interessante que trata exatamente sobre esse tema: a importância da apreciação.
Com essa leitura, tive a oportunidade de aprender o outro lado do verbo
apreciar, ou melhor, uma outra maneira para ser aplicado e que traz
surpreendente resultado no âmbito das relações humanas. Para exemplificar o
poder da apreciação, Dale Carnegie, autor desse livro, traz um bom exemplo, abordado,
segundo ele, num programa de rádio, em que o apresentador relata uma história
reveladora. Disse ele então:
“(...)
uma professora de Detroit solicitou a Stevie Morris que a ajudasse a procurar
um camundongo que estava solto na sala de aula. Entenda-se: ela apreciava o
fato de que a natureza houvesse dado a Stevie algo que na sala ninguém possuía.
A natureza havia dado a Stevie um aguçado par de ouvidos para compensar sua
cegueira. De fato, era aquela a primeira vez que alguém reconhecia a capacidade
de seus ouvidos. Hoje, após muitos anos, ele afirma que aquele ato de
consideração iniciava uma nova vida. A partir daquele momento, começou a
desenvolver seu dom auditivo e esforçou-se por se tornar, sob o nome artístico
Stevie Wonder, um dos maiores
cantores e compositores de música popular dos anos 70”.
Com esse
breve exemplo, que trata de um homem excepcional naquilo que se propôs a fazer,
mesmo dada a sua limitação visual – compor, tocar e cantar com a alma, deparamo-nos
com um cenário, visto não só pela sua relevante exposição frontal, mas também
por aquilo que o estabelece e sustenta nos bastidores.
Se do
lado da frente desse cenário existe o influenciador poder da apreciação, que motiva, desperta e
realiza transformações na vida das pessoas; do lado de traz, nos bastidores, encontram-se
a sensibilidade, a assertividade e o entusiasmo de pessoas predispostas a agir em
seu dia a dia com bons propósitos, seja com os familiares, seja com seus
subordinados ou colegas de trabalho, seja em reuniões com amigos, seja ainda com
pessoas desconhecidas, de modo a reconhecer o que há de bom nos outros em sua
volta. Desligando-se de si próprias, do orgulho e da avidez, essas pessoas buscam
olhar o próximo não visando o seu lado fraco ou ruim, mas valorizando-o e estimando-o
com palavras de elogio e de reconhecimento de modo verdadeiramente sensível e
direto. Esse ato, tão simples e humilde, tão poderoso e fortalecedor, tem o
poder de transformar por completo e de fazer milagres na vida das pessoas.
Mas
porquê estou falando sobre isso? Porque tais pessoas enxergam e praticam a
outra ação desse verbo. Elas têm a humildade e a sensibilidade de reconhecer o
poder da apreciação, pois sabem muito bem o quão importante é a apreciação
sincera por alguém ou por aquilo que alguém faça ou possa fazer de bom. A
apreciação faz bem e não nos custa nada, diferentemente da depreciação e do
julgamento, que são condenadores e preconceituosos. E a apreciação é
inversamente proporcional à bajulação.
Enquanto
que a apreciação é algo que emana verdadeiramente do coração, que tem um
sentimento muito forte e positivo e que sua consequência é a valorização e
crescimento do ser; a bajulação, por sua vez, é algo exterior, obscuramente
falso e visa um interesse egoístico qualquer, não de reconhecimento, mas de censurável
interesse de outrem por qualquer que seja o motivo racional ou mesmo
irracional. E ainda: enquanto que a apreciação enobrece, a bajulação empobrece
e causa muito mal. Todavia, importante dizer que existe, na prática, uma linha
tênue que divide a apreciação da bajulação e que, portanto, devemos observar.
Para
melhor entendimento, trago aqui o significado das palavras apreciação e
bajulação. O dicionário Michaelis assim as define. A palavra APRECIAÇÃO significa: sf (apreciar+ção) 1 Ato ou efeito de apreciar. 2 Estimação do valor de alguma coisa;
avaliação. Enquanto que a palavra BAJULAÇÃO
tem por significado: sf (lat
bajulatione) 1 Ação de bajular. 2 Adulação interesseira; chaleirismo.
As
pessoas querem ser reconhecidas. Todas desejam isso no mais profundo de seus
sentimentos. Trata-se de uma necessidade social. E muitas entram em crise
estrema, ficam doentes por não conseguirem tal reconhecimento, por não serem
reconhecidas pela sociedade ou mesmo pelas pessoas em sua volta. Todos nós
queremos ser reconhecidos naquilo que somos e naquilo que fazemos. O
reconhecimento é o estímulo para o crescimento do ser.
“O
mal fiz uma vez, e sempre falaram; o bem fiz duas vezes, mas nisso nunca
falaram”
(Dale
Carnegie)
Apreciar
e encorajar são duas formas verdadeiramente eficazes para despertar o interesse
e, com ele, o entusiasmo das pessoas e seu crescimento pessoal. O problema é
que muitos estão terrivelmente habituados em criticar, julgar e subestimar a
potencialidade dos outros. Não têm olhos senão para depreciar. Mas pessoas assim
estão, na verdade, se espelhando naquilo que enxergam de negativo nas outras
pessoas para servi-lhes de juízo de valor equivocadamente tolo, como se
avalizassem pretensiosamente a negatividade do ser, e aí tudo se justifica como
certo e normal.
O apreço
salva vida, transforma e abre caminho para os bons relacionamentos. Apreciar
honesta e sinceramente é como se fosse uma fórmula mágica que provoca uma
transformação na vida de alguém. E a apreciação tem um efeito reflexo. Se, de
um lado, beneficia aquele que é estimado, entusiasmando-o e aumentando-lhe a
autoestima e sua coragem; do outro, é a chave que abrirá portas para a
conquista da simpatia, do bom relacionamento e da cooperação.
É
preciso que desatemos o nó do rigor enrijecido e sistemático para sermos
humildes o bastante em reconhecer no outro o seu valor, a sua capacidade e a
sua importância, desarmando-nos do olhar crítico e severo que tão somente nos
enfraquece e nos empobrece. Desse modo – e somente desse modo – é que teremos o
verdadeiro apoio entusiástico das pessoas, o reconhecimento e a dedicação. Isso
é crescimento pessoal, mas, acima de tudo, é crescimento espiritual.
E
por falar em humildade, existem algumas passagens na Bíblia que tratam desse
tema. Faço questão de citar duas importantes conhecidas: "Bem aventurados os humildes
de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mateus 5:3). "Ele
te declarou, ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor pede de ti: que
pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu
Deus" (Miquéias
6:8).
O significado mais nobre de humildade
é a capacidade de reconhecer os próprios erros, defeitos ou limitações, e
ainda: demonstração de respeito, submissão, consideração. Por sua vez,
diverge-se de ostentação.
Portanto, é preciso e tão importante que sejamos
humildes para agir com humildade. E, através de nossa humildade, capacitamo-nos
espiritualmente para servir e também ser servidos; para apreciar o que há de
bom nas pessoas e sermos apreciados; elogiar e sermos elogiados. Sem a
humildade não reconhecemos nossos próprios defeitos e não teremos olhos para elogiar,
muito menos para estimar os outros. Manifestar apreciação é também sermos
gratos para com o outro; é reconhecer no outro aquilo que desejamos ser efetivamente
reconhecidos; é valorizar as coisas mais simples de cada um de nós; é olhar com
olhos santos. Com apreço e gratidão rompemos infinitamente as barreiras em
nossas relações interpessoais e, com certeza, conquistaremos a simpatia e a
atenção de todos.
Por fim, se desejarmos
obter o apoio e o comprometimento das pessoas, devemos, antes de qualquer coisa,
desarmarmo-nos da fraqueza em criticar os erros e as ações para, com olhos
imaculados, observarmos no outro os pontos positivos que possui e que todos têm.
O elogio, sincero e verdadeiro, é transformador e derruba obstáculos e
preconceitos. E o sorriso, por sua vez, tem o mágico poder de chancelar a efetivação
do bom relacionamento.