“O homem que
se vende recebe sempre mais do que vale”
(Barão de Itararé)
Essa
frase vem no momento certo para dizer a coisa lamentavelmente certa. Em época
de campanhas políticas, lícitas ou ilícitas; justas ou injustas; certas ou
erradas; pobres ou milionárias, o que vimos são “vias levianas de duas mãos” em
busca de interesses que visam apenas satisfazer desejos próprios. Pessoas
corruptas de um lado e corruptivas de outro traçam cenários vergonhosos de
nossa pútrida sociedade oportunista. E a carapuça está disponível a quem
interessar possa.
Interessar.
Até parece! Jamais. Quem é corrupto o bastante, também é covarde e crápula o
bastante para se camuflar em simpática pessoa, polida e cavalheira, defensora
dos mais altos princípios e éticas, disposta a mudar o mundo. Não sabe governar
sua cozinha, quer governar a Maringá inteira. E sabe qual é o pior de tudo
isso? Ainda tem quem acredita nela.
Para
mim, existem três expressivas classes de pessoas que se envolvem na política.
Na primeira classe situam-se as do tipo acima, gananciosas que visam interesses
obscuramente particulares, são bandidas e aproveitadoras; já na segunda classe,
encontram-se pessoas bem intencionadas. Porém essa classe, por sua vez,
subdivide-se em duas subclasses: de sujeitos fracos, que em algum momento de
sua gloriosa vida política aceitarão o preço que lhes será imposto, por
qualquer que seja o motivo, corrompendo-se imediatamente; e de sujeitos fortes
e determinados, que defendem até o fim seu objetivo de fazer o bem à sociedade,
porque têm propósitos e sabem muito bem o que estão fazendo; e, por fim, preciso
dizer da classe dos medíocres aventureiros (que não é pequena) que visam apenas
duas coisas: a ascensão social e a segurança de um bom salário, mesmo que seja
por um determinado período curto de tempo. Pobres aventureiros! Essa classe de
pessoas se aventura a cargos públicos, mas com um conhecimento, com uma bagagem
cultural tão mediocremente pequena que acabam, quando muito, criando projetos como,
por exemplo, dar nome às ruas. E a sociedade paga caro por isso.
Para
assumir um cargo público, não basta querer. Tem que ter vocação. Tem que ser forte
e ético o mais que suficiente. Tem que ter discernimento e ser honrado o
bastante. Afinal, está lidando com o bem alheio – o patrimônio público. E se é
público, não é objeto de negociação, muito menos de apropriação. Para assumir
um cargo público, precisa saber que trabalhará para a sociedade, não para ele
mesmo ou para crápulas manipuladores da administração pública, que sempre
existirão, mas que precisam ser expurgados de nossas esferas políticas.
Embora
apaixonado pela política e ainda acreditar muito nela, confesso que muitas
vezes tenho vergonha de mim mesmo, vergonha como pai de família, vergonha como
trabalhador honesto, vergonha como cidadão por ser, lamentavelmente, dependente
de muitos crápulas investidos em cargos públicos, que sugam boa parte daquilo
que contribuí como cidadão para o crescimento da sociedade. Estou cansado de
politiqueiros safados, que se atracam em cargos públicos, como o cão se atraca
no osso e não larga mais. Tenho vergonha sim, pois esse bando convive e faz
parte da mesma sociedade em que vivo e persistem ocupar o trono de nossa
administração.
Tenho
arrepios quando chegam épocas como essas em que devemos (somos obrigados) votar.
Penso que preciso conter minha educação e ética para não perder a compostura e
dizer algumas verdades que a muitos que se aventuram no âmbito político e que vêm
com um sorriso sinicamente esculachado na cara me pedir voto. Um bando de
inexperientes administradores que se candidatam almejando um cargo político,
seja a prefeito, seja a vereador, visando não só uma posição social
ligeiramente avantajada, mas também o engordo de seu bolso. São sujeitos que
dizem saber pouco de tudo, que possuem vasto conhecimento disso ou daquilo, mas
que, na verdade, sabem quase nada, que dirá preparo para assumir o cargo que de
uma hora para outra se acham competentes.
Alguns
já me vieram pedir voto, insistindo nas mesmas promessas mirabolantes e
medíocres. Propostas que nem são de competência do cargo que almejam. Propostas
incertas, duvidosas, cômicas até, e de um gosto lamentavelmente duvidoso. Pobres
ignorantes políticos!
Como
dissera o poeta Gregório de Matos, em seu tempo, replico aqui no meu tempo, em
nosso tempo, no tempo que pouco se evoluiu e que ainda somos obrigados a ver
tantas asneiras de asnos candidatos a cargos públicos. Esperneia e grite em seu
túmulo, nobre poeta. Manifeste-se poeta da boca maldita, que muitas verdades já
dissera e que cabe aqui serem reditas:
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.